Quem manda na direita brasileira? Tarifaço responde

A imposição de uma tarifa de 50% sobre exportações brasileiras aos Estados Unidos foi uma mensagem direta aos setores da Faria Lima e do Centrão que articularam a candidatura do governador paulista Tarcísio de Freitas à Presidência da República: quem representa no Brasil o projeto de Donald Trump é a família Bolsonaro e, portanto, o ex-presidente ou alguém por ele ungido deve ser o candidato ao Planalto em 2026. 

Não é necessário recorrer ao jornalismo em off para entender isso, já que a carta de Trump foi explícita ao denunciar o julgamento de Jair Bolsonaro como uma "vergonha internacional", classificar o processo como "caça às bruxas" e justificar a sanção econômica com base em ações do Supremo Tribunal Federal (STF) que, segundo ele, violariam a liberdade de expressão e a soberania das redes sociais americanas. 

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Steve Bannon, mentor de Trump e referência da extrema-direita internacional, atropelando o entusiasmo do estabelecimento econômico e político com Freitas, reforçou o recado ao afirmar que, para o Brasil se livrar das tarifas, deve encerrar o julgamento de Bolsonaro e seus aliados no STF. Trump e Bannon sinalizam que não apoiam a construção de uma "direita brasileira moderna e democrática" e tampouco estão interessados em qualquer projeto que pretenda romper com o legado de Bolsonaro.

O próprio senador Flávio Bolsonaro escancarou a tática do clã ao comparar a medida à bomba atômica lançada sobre o Japão, sugerindo que apenas o bolsonarismo poderia negociar um desfecho positivo para o Brasil. Nesse contexto, a tentativa de Freitas de assumir protagonismo na mediação, orientado por investidores e parlamentares do Centrão, foi solenemente desconsiderada.

A decisão americana pegou de surpresa as elites econômicas e políticas do Brasil. Diante disso, Faria Lima e Centrão passaram a defender uma diplomacia cautelosa, o que poderia abrir caminho para transformar o presidente Lula em obstáculo para evitar os efeitos do tarifaço sobre a economia e as empresas brasileiras, segundo analistas.

É útil lembrar que o recente entusiasmo dos mercados com a possibilidade de alternância política na América Latina se ancorava na aposta de que governos à direita assumiriam o poder. Para observadores da cena, o tarifaço imposto ao Brasil escancara a disputa sobre quem representará esse movimento no País: se os Bolsonaro, alinhados diretamente a Trump, ou Freitas, visto como uma versão domesticada pelo sistema e establishment locais.

No curto prazo, investidores avaliam que os argumentos de Trump podem acabar fortalecendo tanto Bolsonaro, que teria voltado ao jogo, quanto Lula, ao polarizar ainda mais o cenário e reduzir o espaço para candidaturas supostamente de centro. Ao mesmo tempo, alertam que uma retaliação dura por parte do presidente ainda não está precificada no mercado, o que reforça a possibilidade de uma unificação da Faria Lima e Centrão em torno do clã Bolsonaro em 2026.

A recente valorização dos ativos, ancorada na expectativa de uma mudança de regime no continente, já indicava que a lógica dos investidores e empresários pragmáticos estava superada. Para especialistas, essa aposta refletia uma reação internacional do mercado à recuperação do papel do Estado no pós-pandemia, bem como ao avanço das pressões regulatórias por sustentabilidade, diversidade e responsabilidade social sobre empresas e agentes econômicos, em meio à crise climática e à intensificação das disputas redistributivas.

A ofensiva de Trump/Bolsonaro demonstra que a extrema-direita como alternativa global de poder exige, do centro à direita, unidade entre economia, política e ideologia. Os desdobramentos daqui para a frente não excluem uma escalada que estresse os limites da democracia. No caso brasileiro, dificilmente Faria Lima e Centrão verão um distensionamento tarifário, como tem sido habitual em Trump. Outrossim, podem ser arrastados ao alinhamento com os EUA no contexto da Nova Guerra Fria em pleno acirramento.

REFERÊNCIAS

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BLOOMBERG LÍNEA. Trump inaugura novo “Consenso de Washington” com empresários no poder, diz jurista. 6 jul. 2025. Disponível em: https://www.bloomberglinea.com.br/internacional/trump-inaugura-novo-consenso-de-washington-com-empresarios-no-poder-diz-jurista/ . Acesso em: 13 jul. 2025.

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DUAILIBI, Julia. Flávio Bolsonaro compara tarifa de Trump à bomba atômica lançada sobre o Japão. GloboNews, Blog da Julia Duailibi, 11 jul. 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/blog/julia-duailibi/post/2025/07/11/flavio-bolsonaro-globonews-mais.ghtml . Acesso em: 13 jul. 2025.

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