Mesmo após o tarifaço de 50% anunciado pelo presidente americano, Donald Trump, contra produtos brasileiros, gestores internacionais seguem confiantes nos fundamentos da economia do Brasil, segundo relatos de especialistas de mercado e analistas políticos nos últimos dias.
Investidores estrangeiros consideram a medida grave, mas ainda não enxergam riscos imediatos para o cenário fiscal e monetário do país. A avaliação é de que o Brasil segue apresentando resiliência econômica, com bom desempenho em áreas como controle de gastos e política de juros.
Empresas brasileiras passaram a procurar diretamente seus importadores nos Estados Unidos, incentivando-os a pressionar parlamentares locais de regiões que podem ser afetadas com demissões e prejuízos econômicos causados pelo tarifaço, buscando gerar reação política interna nos Estados Unidos. O México serviu como exemplo bem-sucedido ao mobilizar intensamente o setor privado para negociar tarifas com os EUA.
Ainda assim, há preocupação com os desdobramentos políticos da crise. O tarifaço é visto como um ataque com motivação ideológica, que eleva a tensão entre os governos e pode gerar instabilidade institucional.
Os investidores temem que o ambiente de negócios seja contaminado pelo embate entre Brasília e Washington, especialmente diante da tentativa de Trump de condicionar a retirada das tarifas ao arquivamento da ação penal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. O temor é de que o Brasil, mesmo com uma economia resiliente, volte a ser enquadrado como destino de alto risco geopolítico.
Apesar do cenário tenso, a postura do governo Luiz Inácio Lula da Silva tem sido elogiada por evitar retaliações precipitadas. A exclusão de setores estratégicos, como os aviões da Embraer, e o tom diplomático adotado por Mauro Vieira, chanceler brasileiro, foram vistos como acertos. Isso ajudou a manter a confiança no Brasil como destino de investimentos, mesmo com o ruído político e comercial vindo de Washington.
Alguns analistas, porém, dizem que o governo Lula ainda tenta reagir com métodos tradicionais, apostando na Organização Mundial do Comércio (OMC) como canal principal de negociação, o que seria um descompasso com o que chamam de "novas dinâmicas do comércio internacional".
Para esta opinião, a efetividade da resposta brasileira dependerá cada vez mais da articulação direta com atores privados e políticos norte-americanos, não apenas de instrumentos multilaterais. Outros analistas veem um movimento consciente do presidente Lula para demarcar uma posição política, econômica e diplomática em defesa do multilateralismo e do sistema internacional ante o unilateralismo americano.
Para os gestores internacionais, os ativos brasileiros continuam atrativos, especialmente diante da desvalorização relativa em comparação com outros emergentes. No entanto, o desenrolar do conflito comercial será acompanhado de perto. A recomendação é clara: o Brasil deve seguir com equilíbrio, técnica e diplomacia — elementos que têm sustentado a confiança externa mesmo sob a pressão do tarifaço trumpista.