Por: Ruth Vieira
| Só não envelhece quem morre antes — e, sinceramente, não é toda a ficha da pessoa etarista que cai! Envelhecer é um privilégio, mas tem gente que trata como um castigo. A cada ruga, um drama. A cada fio branco, um luto. Mas a verdade é que o tempo só pega quem para. Mas é cada vez maior a galera que não parou: refez seus conceitos, trocou o pijama por “legging”, o crochê por “spinning”, e hoje vive “alone”, namora, malha, estuda, aprende mandarim e ainda dá “match” em aplicativos de namoro. O moderno não envelhece, atualiza o sistema. Já tem até um nome novo – “envelhecência”. |
O preconceito contra a pessoa idosa é quase uma piada pronta: vem de quem também vai ficar velho (se tiver sorte), ou uma espécie de amnésia coletiva: esquece que o tempo é um contrato vitalício e inegociável. Vejo isso a todo momento e é uma pena que a juventude que rompe barreiras e vai para a luta, é a mesma que alija, que afasta e menospreza a pessoa idosa que tanto tem para ensinar.
E quem não gosta de idoso, é filho de quem? De chocadeira, é claro! Só alguém que nunca teve um avô que dança forró melhor que muito ‘tiktoker’, ou uma avó que faz pilates e ainda dá aula de história no cursinho pode achar que idade é sinônimo de obsolescência. Embora tenha uns que exageram na jovialização e ficam com a cara do Ken ou da Barbie depois de um pit stop ‘bad” na clínica estética. Mas a maioria é envelhecente enxute, charmose e com mais colágeno que muito influenciador de 20 anos.
A velhice virou quase um spoiler da vida: todo mundo sabe que vai chegar lá, mas finge surpresa quando acontece. O mais curioso é que as mesmas pessoas que zombam do véi, ou da véia atravessando a rua devagar, amanhã irão discutir com o GPS do andador inteligente que insiste em recalcular a rota até a farmácia, ou pedir ajuda para configurar o holograma do micro-ondas. Quando a inteligência artificial estiver fazendo tudo e a juventude nem souber mais escrever, estudar e ler sem ela — e a pessoa envelhecente ainda escrever, escolher o vinho do jantar e com memória ok.
"Quem você acha que vai ser obsoleto primeiro? O jovem que só sabe reclamar da vida e vive cansado aos 25, ou o idoso que acorda cedo, nada, faz aula de teatro à tarde e ainda tem pique para um vinhozinho à noite? Pois é... Porque sabedoria, bom humor e charme não se programam. Se cultivam. E o futuro, meus caros, minhas caras, é vintage com acabamento premium."
Neste futuro nem tão distante, quando a IA estiver respondendo e-mails, cuidando da casa e até escrevendo crônicas (opa!), não é o vovô que sabe consertar tudo com arame e fita isolante, nem a vovó que faz sopa que cura até dor de cotovelo que vão “pegar o beco”. Vai ser aquela pessoa jovem, arrogante, que acha que sabe tudo, mas não sabe nem fritar um ovo sem pedir tutorial para a IA, que vai estar defasada, abobalhada, desinformada e alienada porque, no fim das contas, sabedoria não se programa — se vive. E o etarismo? Quem viver, verá…