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O “TACO” do gringo subestima a “jararaca” brasileira

O recuo parcial do governo dos Estados Unidos — aplicando o tarifaço de 50% a apenas 36% das exportações brasileiras, segundo o vice-presidente Geraldo Alckmin — confirma o que Wall Street já conhece bem: Donald Trump tem baixa tolerância a pressões econômicas e do mercado financeiro. O apelido desse comportamento é "TACO": "Trump Always Chickens Out" (“Trump sempre amarela”, em tradução livre), de acordo com reportagem do G1. 

A expressão foi cunhada por Robert Armstrong, colunista do Financial Times, e viralizou entre investidores americanos como uma fórmula previsível: Trump anuncia medidas bombásticas, recua quando o mercado reage mal e depois tenta reformatar a ofensiva. Daí , surgiu o “TACO trade”: investidores compram ações em queda, apostando que Trump vai recuar e o preço vai subir. 

Entretanto, esse jogo de empurra e recuo lembra o “método das aproximações sucessivas”, uma técnica militar usada para se referir ao modo como ideias autoritárias foram sendo normalizadas no Brasil. Primeiro, se joga a bomba — como a defesa da volta do AI-5 — e depois se recua, mas o que parecia inaceitável se torna assunto. Foi assim com Jair Bolsonaro, quando alternava crises institucionais com recuos calculados. E é assim com Trump, pois cada ofensiva tem o objetivo de empurrar a linha do aceitável um pouco mais à frente.

Nas redes sociais brasileiras, o apelido “TACO” virou piada. Mas, mesmo com recuo parcial do tarifaço, as novas taxas ainda ficam entre 10% e 50% sobre as exportações. 


(IPK)

OS PRÓXIMOS “TACOs”

No compasso de sanções graduais, a Casa Branca já prepara a próxima rodada, segundo apuração da CNN Brasil O Departamento de Estado planeja aplicar a Lei Magnitsky a outros ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que votaram contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. 

Haveria até planos sobre restringir vistos de auxiliares do presidente Lula e até de cidadãos comuns, com exigência de taxas de até US$500 para novas solicitações. Ou, pior, banir os vistos para brasileiros, incluindo o período da Copa do Mundo de futebol masculino no próximo ano.

Trump também gostaria de constranger Lula, preferencialmente em uma visita à Casa Branca. Mas, como essa cena é improvável, uma alternativa seria apostar em um nome alinhado e interferir em 2026, de acordo com a CNN. A estratégia seria empilhar munição e usar cada bala em resposta à resistência brasileira. 

O “TACO” de Trump, que deve seguir em ação por sua própria lógica, é a versão 5G da doutrina do “Big Stick” ("Grande Bastão"), popularizada por Theodore Roosevelt: negociar com um sorriso no rosto e um porrete na mão. No lugar da força militar, agora a guerra é tarifária. 

Porém, ao contrário do que dizem os adversários do magnata nova-iorquino, o metalúrgico de Garanhuns possui alta tolerância a pressões econômicas e do mercado financeiro, como mostrou a pesquisa AtlasIntel/Bloomberg, na qual ele voltou a virar o jogo com 50,2% de aprovação vs. 49,7% de desaprovação. Como destacou jornal The New York Times, ninguém está desafiando Trump como Lula. Com ouvidos cheios pelo clã Bolsonaro, é provável que o “TACO” do gringo esteja subestimando, mais uma vez, a "jararaca" brasileira.