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Viva a mulher! Viva, mulher!

| Por: Ruth Vieira|

O feminicídio deles de cada dia, expõe a fragilidade das políticas públicas, a persistência de uma cultura patriarcal que naturaliza a violência contra mulheres e uma rede defasada, negligente e despreparada para enfrentar essa escalada covarde e angustiante. Em 2024 foram 1.459 feminicídios - quatro mulheres assassinadas por dia! Em 2025, até agora, já são mais de 1.075 mortes e 2,7 mil tentativas. Os casos mais recentes chocam pela brutalidade: mulheres queimadas vivas dentro de casa, assassinadas diante dos filhos, atropeladas e arrastadas por ruas, ou executadas em locais públicos. 


(Reprodução/Internet)

Em Pernambuco, casos extremos de violência: em Recife, uma mãe e quatro filhos morreram carbonizados após o companheiro incendiar a casa e em Calumbi, o secretário de Esportes de Calumbi, Numeriano Luiz de Sá, foi agrediu brutalmente a esposa, que enfrenta tratamento contra o câncer; em Brasília, uma mulher foi morta na frente dos filhos pequenos; em São Paulo, outra foi alvejada enquanto trabalhava. 

São episódios que estão virando regra e não exceções. Há um padrão de violência em que homens, geralmente parceiros ou ex-parceiros, não aceitam o fim da relação e transformam a agressão em demonstração de poder e humilhação. 

Os dados mostram que a taxa nacional em 2024 foi de 1,34 feminicídio por 100 mil mulheres, com o Centro-Oeste liderando em incidência, e que em 2025 os estados mais críticos são: Acre, Mato Grosso, Rondônia, Tocantins e Mato Grosso do Sul. Cuiabá, Porto Velho e Macapá apresentam taxas bem acima da média. 

O recorte racial revela tristemente que 68,2% das vítimas são negras, segundo o Atlas da Violência. O perfil dos agressores é manjado: homens próximos, movidos por ciúme, sentimento de posse e incapacidade de aceitar a separação, em um contexto de misoginia reforçada por discursos de masculinidade tóxica e radicalização online. 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que o combate ao feminicídio deve ser um “movimento nacional dos homens”, defendendo campanhas educativas e questionando se o Código Penal é suficiente para punir tamanha brutalidade. Entre medidas recentes estão o uso de tornozeleira eletrônica para monitorar agressores e patrulhas especializadas. Já é um reforço, mas falta mais: dos governos estaduais e municipais.

Há alguns caminhos como verificar antecedentes antes de encontros mediados por aplicativos, como certidões públicas gratuitas da Polícia Federal e dos Tribunais de Justiça, além de plataformas privadas como Plinq e FlagCheck, que compilam dados de processos e medidas protetivas. 

No campo legislativo, a deputada Fernanda Melchionna apresentou o PLP 255/2025, que propõe incluir condenações pela Lei Maria da Penha no escopo da Lei da Ficha Limpa, tornando inelegíveis agressores de mulheres, reforçando a incompatibilidade entre violência doméstica e representação política. 

A sociedade também reagiu recentemente a essa barbárie indo às ruas participar de atos nacionais contra o feminicídio, em mais de 20 estados e no Distrito Federal. Foram 9,2 mil pessoas na Avenida Paulista e manifestações em Copacabana, Brasília, Belo Horizonte, Curitiba, Recife e outras capitais, exigindo a criminalização da misoginia, orçamento obrigatório para políticas de proteção, regulação de plataformas digitais e estruturação da rede de acolhimento. 

Também tem punições exemplares de alguns homens públicos e celebridades que sofreram consequências após denúncias: Arthur do Val, ex-deputado estadual de São Paulo (Podemos), cassado em 2022 após declarações misóginas; Cássio Ramos, ex-vereador de Goiânia (MDB), afastado após denúncia de agressão à companheira; DJ Ivis preso e cancelado após vídeos de agressão à ex-esposa; várias denúncias de assédio, inclusive na mídia. 

A perda de prestígio e poder já começa a ser uma realidade para denunciados, servindo de exemplo e reforçando a necessidade de institucionalizar a inelegibilidade de agressores. 

Mulheres comunicadoras devem transformar o feminicídio em pauta permanente, investigando gargalos e oferecendo informações de serviço; a publicidade pode assumir campanhas educativas contínuas voltadas para homens, com mensagens diretas do tipo “se acabou, acabou. Saia sem violência”. Marcas e plataformas digitais devem assumir metas públicas de combate à misoginia online e o jornalismo pode mapear e fornecer os serviços de acolhimento, além de pressionar gestores por indicadores de desempenho. 

O feminicídio no Brasil é um problema estrutural que exige resposta integrada. Uma lei mais dura, execução orçamentária ampliada, campanhas educativas voltadas para homens e fortalecimento da rede de acolhimento. As manifestações mostram que a sociedade não aceita mais paliativos. O desafio é, sempre, transformar discurso em ação e indignação em políticas concretas que salvem vidas! Das mulheres que vos pariu!