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Lula reorganiza governabilidade ampla; Margem Equatorial, Venezuela no radar

Nesta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve concluir a reorganização de sua base aliada no Congresso Nacional, após uma onda de demissões de apadrinhados de parlamentares infiéis, em uma jogada considerada disruptiva ante um enfraquecido “semiparlamentarismo”. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, se reunirá com líderes partidários com o desafio de fidelizar franjas governistas do Centrão, frear a drenagem de recursos da situação para robustecer a oposição, finalizar a aprovação da reforma do Imposto de Renda (IR) e aprovar as leis orçamentárias para 2026 — autorizadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) a visarem a banda inferior da meta fiscal.

Em evento do Partido Comunista, Lula reiterou a linha que deve seguir: “A gente não tem que dar muita importância para a Faria Lima, nosso discurso é para o povo brasileiro, para aqueles que trabalham”. No entanto, a exaltação ao “Brasil com S” no final da novela Vale Tudo, campeã de audiência da Globo, indica que uma reedição da frente ampla de 2022 começou a se desenhar. “O nosso desafio não é agradar a nós mesmos, mas convencer os outros que ainda não são nossos a vir com a gente. [É] o desafio da construção do discurso, do projeto de nação que a gente quer criar e do nosso comportamento, que tem de ser exemplar”, prosseguiu o presidente.


(Gabriel de Paiva/O Globo)

Abaixo, a legenda para avaliação de risco político:

⬆️ Positivo para o governo Lula
⬇️ Negativo para o governo Lula
🟠 Neutro/Atenção

⬆️ Nova correlação de forças
Lula pode indicar o substituto de Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal (STF), com o conforto de escolher entre cenários ganhadores: sinalizar à população evangélica, avançando sobre valiosas franjas de um eleitorado majoritariamente refratário à sua recondução; ampliar a governabilidade e entendimentos com setores do centro e da direita no Senado, garantindo maior controle da agenda; ou contemplar apelos da sociedade civil por diversidade na Corte, o que poderia reenergizar movimentos que culminaram nos protestos contra o “pacote da impunidade”.

🟠 Dilemas ambientais
Mesmo com 61% da população se opondo à exploração de petróleo na Margem Equatorial (Datafolha), a licença para perfuração na Foz do Amazonas pode ser concedida nesta semana, segundo agências do mercado financeiro. A defesa do meio ambiente é vista como uma das bandeiras que atraíram o centro democrático, a classe média progressista, a juventude, investidores ESG, além de “famosos” nacionais e internacionais, para a frente ampla de Lula em 2022. Paralelamente, a queda recente do preço do petróleo tipo Brent, ao menor valor em cinco meses, pode reduzir o preço da gasolina.

🟠 Performance perigosa
A possibilidade de um conflito aberto entre EUA e Venezuela, como cogita a Casa Branca e relatou a The Economist, embute uma provável negociação mais vantajosa aos americanos por parte da Nobel da Paz, Maria Corina, do que Donald Trump diz ter recebido de Nicolás Maduro. Ao Brasil, não deve restar outra opção que não seja cumprir o mandamento constitucional de respeitar a autonomia das nações e priorizar a estabilidade do continente, além de seus próprios interesses comerciais. Por si só, uma agressão americana unilateral também tende a neutralizar desgastes com narrativas que acusariam Brasília de “passar pano” para Caracas. No fim de semana, Trump foi alvo de protestos massivos em casa e na Europa — o “No Kings”. Os próximos dias dirão se as ameaças são parte de um sinistro método de negociação, que considera ameaças de assassinato e bombardeios-surpresa, ou se Trump dobra a aposta em ser o maior risco global e cabo eleitoral de suas forças antagônicas.

PRÉ-AGENDA DA SEMANA: NOSSOS DESTAQUES

⬆️ Segunda-feira (20): o Boletim Focus traz previsões de câmbio, juros, crescimento e inflação, seguindo o cenário favorável à redução da Selic até o final do primeiro trimestre de 2026.

⬆️ Terça-feira (21): a Comissão Mista de Orçamento (CMO) analisa a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2026, com um cronograma de execução de emendas parlamentares impositivas até junho, representando o “bode na sala”. A demora na aprovação da LDO, assim como ocorreu em 2025, pode atrasar o calendário de pagamento das emendas, em sentido oposto ao pretendido pelos parlamentares.

Enquanto isso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pode anunciar medidas para compensar a derrubada da “MP BBB”, com a resistência do lobby de bets, bilionários e bancos fortalecendo a narrativa de justiça tributária de Lula. No STF, o ministro-relator Cristiano Zanin, que tende a ser acompanhado pela maioria, votou pela inconstitucionalidade da prorrogação da desoneração da folha de pagamento para grandes empresas, o que aliviaria pressões fiscais.

🟠 Ainda na terça: começa a reunião da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), na Malásia, onde Lula e Trump podem se encontrar, alinhando expectativas. A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado debate a reforma do IR, com foco no impacto orçamentário-financeiro e para estados e municípios. A rivalidade paroquial entre o relator no Senado, Renan Calheiros, e na Câmara, Arthur Lira, pode atrasar a conclusão da medida, cujo desgaste tende a recair sobre o Legislativo como um todo.

O Colégio de Líderes define a pauta semanal da Câmara, podendo votar a urgência da gratuidade de bagagens de mão em voos comerciais, em tentativa de rebranding da Casa. O relator do “PL da Dosimetria”, Paulinho da Força, para manter o assunto circulando, voltou a dizer que a proposta pode ser pautada, prevendo cerca de 350 votos a favor.

⬆️ Quinta-feira (23): o ministro Flávio Dino, do STF, conduz audiência sobre as emendas — um crescente risco fiscal, com mais de 40 mil delas sob suspeita de financiar a lavagem de dinheiro do crime organizado, envolvendo fintechs, de acordo com relatos da imprensa.

⬆️ Sexta-feira (24): o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga os índices inflacionários mensal e acumulado em 12 meses, que impactam as expectativas baixistas para os juros. Termina o prazo para o STF concluir o julgamento da desoneração da folha de pagamentos.

Nos últimos dias, o governo Lula superou a retaliação de setores do centro e da direita que lhe fazem oposição (adiamento da derrubada de vetos ambientais na véspera da COP30 e bloqueio à convocação do irmão de Lula na “CPI do INSS”), além de avançar nos entendimentos com Washington para normalizar a relação diplomática e comercial.

Os êxitos recentes da governabilidade lulista reafirmam a tração do Planalto com preservação do arcabouço fiscal, articulando entregas públicas (PAC, Pé-de-Meia, Mais Especialistas etc.) e um projeto de futuro com menos “sufoco”, combinando bandeiras democráticas (“sem anistia”, autonomia dos Poderes, “pobres no orçamento, ricos no IR”), nacionais (soberania) e populares (reforma do IR, fim da escala 6x1, PEC da Segurança, tarifa zero).