| Por: Ruth Vieira |
O deputado distrital Thiago Manzoni (PL-DF) atacou recentemente, a Universidade de Brasília (UnB), com uma acusação tão absurda quanto perigosa: segundo ele, a UnB estaria “preparando alunos para matar quem pensa diferente”. A frase, dita em sessão na Câmara Legislativa, não apenas ignora a realidade da instituição como revela um profundo desprezo pelo pensamento crítico — talvez o verdadeiro alvo do parlamentar.
A UnB está entre as dez melhores universidades do Brasil. É referência em pesquisa, ciência e formação cidadã. Já formou nomes como o neurocientista Miguel Nicolelis, a antropóloga Débora Diniz, o físico Marcelo Gleiser e tantos outros que contribuem para o país com ideias, não com armas. A reitora Márcia Abrahão respondeu com firmeza, classificando a fala como “grave, irresponsável e mentirosa”, além de reforçar o papel constitucional da universidade como espaço de pluralidade e liberdade acadêmica.
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Com mais de 50 mil estudantes, a UnB seria, segundo a lógica fanatizada do deputado, o maior exército universitário do mundo. Maior que o efetivo da Polícia Militar do Distrito Federal, maior que muitas forças armadas. É de uma sandice tão extrema, que a saída é ironizar e perguntar: seria uma tropa de jovens intelectuais armados... com livros, laptops e... bom senso?
Curiosamente, quem tem investido em formar jovens com viés militarizado são algumas igrejas evangélicas, com acampamentos, marchas e discursos, quase um mix de fanatismo que usam a fé com disciplina bélica. Mas disso Manzoni não fala. Será que o extremismo, quando vem com versículo, fica mais palatável? Será que ninguém perguntou a ele sobre isso? Verdadeiras milícias para cometer atos questionáveis “em nome de Deus”?
O ataque à UnB não é só contra uma instituição: é contra o pensamento livre, contra a ciência, contra a cultura. É contra tudo que não se dobra ao fanatismo ideológico. E isso, para quem vive de slogans e medo, é intolerável.
Nenhuma universidade ensina a matar. Ensina a pensar. E pensar, hoje, é um ato de resistência.