| Por: Leopoldo Vieira |
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, a visitar o ex-presidente Jair Bolsonaro apenas em 29 de setembro, e não nesta terça-feira, como havia solicitado. A decisão indica que a Corte pretende, antes do encontro, medir a retaliação de Washington às condenações por tentativa de golpe, avaliar seus efeitos sobre os chefes do Congresso e observar a reação de Tarcísio e de seus aliados — como o Centrão e o mercado financeiro.
Nesta segunda-feira, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, anunciou que novas sanções serão divulgadas na próxima semana, no mesmo período em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estará em Nova York para a Assembleia Geral da ONU. A expectativa é de que Lula confronte o presidente americano, Donald Trump, em temas como democracia, soberania, meio ambiente, multilateralismo e genocídio na Faixa de Gaza, o que deve ampliar a polarização entre Washington e Brasília. A delegação brasileira será reduzida, após atrasos e negativas de vistos pelos EUA, o que internacionalistas consideram violação das regras da ONU, mas reforça a ação consciente da Casa Branca para refundar a tradição diplomática.
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MOTTA E ALCOLUMBRE PODEM SER SANCIONADOS
Tarcísio cancelou a viagem que faria a Brasília para articular a anistia, em meio à disputa entre a versão “light”, que livraria Bolsonaro da prisão mas o manteria inelegível, e a “ampla, geral e irrestrita”, defendida pela Casa Branca. Analistas avaliam que as sanções podem ser um divisor de águas na conjuntura política: se atingirem apenas ministros do STF, os EUA sinalizarão ter jogado a toalha na retaguarda do clã Bolsonaro; se incluírem os presidentes da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, o recado será para que o Congresso se alinhe a Washington.
Após a condenação judicial de Bolsonaro, a decisão sobre a anistia está nas mãos de Motta e Alcolumbre, que têm resistido em pautar o mérito do tema. Todavia, o presidente da Câmara, ao ensaiar dar prioridade às propostas de blindagem de congressistas frente ao STF, está seguindo um roteiro já traçado pela oposição para resultar no perdão.
ESCALADA ECONÔMICA E POLÍTICA
Economistas da Faria Lima avaliam que novas sanções podem paralisar a reforma do Imposto de Renda (IR), além de acelerar negociações à direita para isolar candidaturas extremistas e favorecer projetos centristas. Em contrapartida, cresce o risco de reversão de isenções tarifárias para exportadores aos EUA. Aeronaves, petróleo, suco de fruta e bancos, estes últimos atingidos pela Lei Magnitsky, são apontados como setores mais vulneráveis, aumentando a insatisfação entre grandes empresários e investidores.
Em paralelo, ministros do STF têm indicado que, caso os americanos endureçam as sanções, Bolsonaro poderá ser enviado ao regime fechado — uma cena com potencial de alto impacto eleitoral, especialmente para Tarcísio. Neste sentido, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, afirmou nas redes sociais que “as novas ameaças do governo Trump ao Brasil apenas confirmam a traição de Jair Bolsonaro, que incita uma potência estrangeira a atacar e punir os responsáveis pela Justiça”.
LULA ACUMULA CAPITAL POLÍTICO
Enquanto a anistia não avança, o governo Lula acumula capital político, apesar de sua minoria no Congresso, e balanço social, contra seus adversários em 2026. A taxa de desocupação caiu para 5,6% no trimestre encerrado em julho, o menor nível desde 2012, segundo dados oficiais divulgados nesta terça-feira. Já a renda média real do trabalhador brasileiro chegou a R$ 3.484, enquanto a massa de rendimentos também bateu recorde, alcançando R$ 352,3 bilhões.
Além disso, agendas como a reforma do Imposto de Renda, o fim da escala 6x1 e tarifa zero para o transporte público urbano, aprovadas ou não, tendem a ser trunfos eleitorais, sobretudo se o governador de São Paulo ficar associado ao establishment econômico e político.
Ao adiar a visita de Tarcísio, o STF adia um possível acordo em torno da fórmula “Bolsonaro inelegível, mas livre da prisão”, ganhando tempo para testar forças e pressionar o governador paulista a contribuir para isolar o que considera extremismo político, mesmo ao custo de seu desgaste com Washington. Resta saber se a Corte conseguirá tirar o dedo "na hora da porrada do martelo" — como diz a canção de Gilberto Gil —, caso se confirme um "big stick" americano sobre o Congresso e o mercado.