Dois vetores prometem dominar o noticiário e balançar a política e a economia nesta semana: a proposta de anistia e a chamada “super-quarta”. De um lado, o governo Luiz Inácio Lula da Silva se articula para barrar no Congresso a votação de um perdão ao ex-presidente Jair Bolsonaro e a outros condenados por tentativa de golpe de Estado em 8 de Janeiro, enquanto tenta pautar a reforma do Imposto de Renda (IR). De outro, o mercado financeiro se prepara para o Banco Central (BC) e o Federal Reserve (FED) definirem as taxas de juros no Brasil e nos Estados Unidos, ambos em direção a uma tendência baixista, que pode ajudar a valorizar o real sobre o dólar, de acordo com economistas.
Na segunda-feira, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, chega a Brasília para articular a anistia e reforçar seu nome como sucessor de Bolsonaro em 2026. A pressão é para que o ex-presidente aceite uma solução que alivie sua situação jurídica, além de abrir mão de um familiar na chapa presidencial, com expectativa de indulto em caso de vitória da centro-direita. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, rechaçou novamente a medida, dizendo que, se preciso, "vamos ter que enfrentar o Congresso nesta pauta”.
(Ricardo Stuckert/PR)
O Boletim Focus trará a expectativa de inflação para 2027 e a projeção do câmbio para este e o próximo ano, que é eleitoral. A queda do dólar para abaixo de R$ 5,40 na última semana, apesar da condenação de Bolsonaro, pode acelerar a convergência da inflação para o centro da meta, beneficiando o Palácio do Planalto. Colaborando neste sentido, o BC também divulga o índice de atividade econômica de julho, com estimativa de queda de 0,3% na base mensal.
A CPMI do INSS ouve o “Careca do INSS”, preso na semana passada e apontado como líder do esquema de descontos ilegais de aposentados e pensionistas. Indicado por Bolsonaro, o ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), dispensou investigados de prestarem depoimentos. O Planalto calcula ter devolvido cerca de R$ 1,29 bilhão, com 2,3 milhões de adesões ao acordo de ressarcimento.
Na terça-feira, na reunião de colégio de líderes da Câmara dos Deputados, a disputa política esquenta: a oposição ameaça travar o projeto que isenta de imposto de renda quem ganha até R$ 5.000 para forçar a discussão da anistia, que segue sem consenso — “light”, como defende o Centrão, ou “ampla, geral e irrestrita”, como quer o bolsonarismo e a Casa Branca. Porém, pesquisa Datafolha mostrou que 54% dos brasileiros rejeitam a proposta de perdão a Bolsonaro, enquanto 39% apoiam. Paralelamente, outros levantamentos indicaram apoio à reforma do IR por mais de 70% da população.
O governo Lula também divulga a taxa de desemprego do trimestre encerrado em julho, com projeção de recuo de 5,8% para 5,7%-5,6%, fortalecendo o balanço social do Poder Executivo. Já a Comissão especial da chamada PEC da Segurança Pública, na Câmara, ouve o ministro da Justiça Ricardo Lewandowski, após as operações contra lavagem de dinheiro do crime organizado por meio de empresas e de fundos de fachada na Faria Lima.
No dia seguinte, a atenção se volta para a “super quarta”. O mercado espera que BC mantenha a Selic em 15%, preparando terreno para cortes nas próximas reuniões, diante de um contexto local de deflação e atividade resiliente — fatores considerados positivos para a reeleição de Lula. Nos EUA, o FED deve cortar os juros em 0,25 ponto, a 4,25%, impulsionando ainda mais a tendência de queda no Brasil.
Enquanto isso, EUA e China iniciaram em Madri a quarta rodada de negociações econômicas, e o presidente americano, Donald Trump, afirmou estar preparado para avançar com sanções contra o petróleo russo caso os países da OTAN façam o mesmo — movimento que pode gerar impactos futuros no Brasil.
Ao longo da semana, seguem as repercussões da condenação de Bolsonaro pelo STF, especialmente quanto às possíveis reações da Casa Branca com novas punições ao Brasil, em meio à melhora da avaliação de Lula nas pesquisas. O presidente publicou artigo no "The New York Times" dizendo estar aberto a dialogar com Washington, mas que democracia e soberania brasileiras permanecem inegociáveis.
O que também monitorar:
- Com potencial de repercussão no maior país católico do mundo — o Brasil, o Papa Leão 14 fez um duro alerta contra pacotes de remuneração corporativa que pagam salários milionários a executivos enquanto mantêm disparidades com os trabalhadores. Ele citou como exemplo o plano de remuneração de US$ 1 trilhão da Tesla para seu CEO, Elon Musk, considerado um ícone da extrema-direita global. A fala reforça uma agenda de "ricos no imposto de renda" e por jornadas de trabalho equilibradas, desafiando o mundo corporativo.
- Um estudo global do Upwork Research Institute revelou uma contradição preocupante: 96% dos executivos acreditam que a inteligência artificial deve aumentar a produtividade, mas 77% dos funcionários relatam que a tecnologia, na prática, aumentou sua carga de trabalho e dificultou o alcance das metas. Alguns especialistas já alertam para a chance da IA substituir todo o trabalho manual e intelectual no futuro próximo, além de seu alto custo na sustentabilidade do uso da água.