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"Insurreição" antiestablishment; anistia será dosimetria; IR para compensar desgastes; Lula encara Trump

A repercussão das mobilizações de domingo, o “pacote da impunidade”,  a Reforma do Imposto de Renda (IR), novas sanções de Washington e a polarização global entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e dos Estados Unidos, Donald Trump, na 80ª Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU), devem dominar a semana. No plano político, cresce o isolamento da direita associada ao ex-presidente Jair Bolsonaro e a defensiva do Centrão devido ao desgaste com medidas de autoproteção judicial e para "descondenar" envolvidos em tentativa de golpe de Estado. No campo econômico, a Faria Lima passou a destacar a resiliência da atividade como obstáculo à queda de juros, o que coincide com a recuperação estável de Lula nas pesquisas, fazendo o mercado financeiro recalcular suas apostas em “mudança de regime” em 2026.


(Redes sociais/Reprodução)

UMA "INSURREIRAÇÃO ANTIESTABLISHMENT"?

As manifestações contra o “pacote da impunidade” (PEC da Blindagem ou Bandidagem + urgência da anistia) marcaram a volta da iniciativa da esquerda nas ruas, com adesão do centro democrático e da classe média progressista, setores que, juntos, foram decisivos para a vitória da frente ampla de Lula em 2022. Após 20 anos, a esquerda retomou a bandeira do combate à corrupção, combinada a pautas sociais populares, reapropriando-se do sentimento antissistema que impulsionou o PT nos anos 1980-90, segundo analistas.

O reposicionamento já se expressava nas redes com o sucesso da campanha pela tributação de super-ricos, que ajudou Lula a recuperar popularidade e emparedou o Legislativo após o Centrão derrubar um decreto presidencial para fechar as contas do arcabouço fiscal taxando o "andar de cima". A tendência se consolidou com o tarifaço e novas sanções impostas pela Casa Branca a pedido do clã Bolsonaro.

LEGISLATIVO PODE SOFRER REVÉS INÉDITO

O “pacote da impunidade” é avaliado por especialistas como o maior retrocesso nas leis contra crimes de colarinho branco desde que foram criadas. O tamanho dos atos de domingo — mais de 40 mil pessoas no Rio de Janeiro e São Paulo, conforme a USP — assustou o establishment político e equilibrou a disputa de ruas com mobilizações bolsonaristas do Dia da Independência.

Capitalizando a insatisfação da população com privilégios, reativada contra si próprio pelo Parlamento, Lula alertou que o Parlamento não representa a maioria da sociedade. Paralelamente, o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), pediu pareceres a autoridades jurídicas num processo que pode reverter o orçamento impositivo. O mecanismo é considerado pilar do poder do Centrão, quando as emendas parlamentares são crescentemente vinculadas na opinião pública a malfeitos. O conjunto de fatores sugere risco de um raro revés ao status quo do bloco e à sua agenda "semiparlamentarista (sic)”, hegemônica desde 2016.

REFORMA DO IR E ANISTIA "LIGHT" NO RADAR

Neste contexto, o relator da reforma do IR, Arthur Lira, apresentou seu parecer ao presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, deixando-o pronto para votação junto ao “PL da Dosimetria”, rebranding da anistia ampla que o Centrão busca impor à maioria que rejeita a medida nas pesquisas e ao bolsonarismo. Contudo, a ameaça do bloco de barrar a taxação dos mais ricos, para compensar a isenção para quem ganha até R$ 5 mil, pode ampliar o desgaste do Parlamento frente ao apelo por justiça tributária. Sem avanço no IR, o Legislativo seguirá sob fogo cruzado —  preveem lideranças do Poder.

O relator dessa anistia “light”, Paulo Pereira da Silva, afirmou que não incluirá perdão criminal a Bolsonaro, gesto interpretado como tentativa de esvaziar a bandeira que mobilizou seu eleitorado raiz nos últimos anos. O ex-presidente Michel Temer mediou com o STF a solução "Bolsonaro inelegível, mas livre da Papuda", um sinal do aval de grandes empresários e investidores ao pacto. O ministro Alexandre de Moraes, todavia, negou o entendimento informal. Dos EUA, temendo perda de mandato e prisão, o deputado Eduardo Bolsonaro resiste ao acordo.

AGENDA POLÍTICA E ECONÔMICA: NOSSOS DESTAQUES

Segunda-feira: o Boletim Focus indica projeções de inflação, crescimento e câmbio para balizar expectativas de corte da Selic, e o governo Lula atualiza andamento da meta fiscal, o que pode ser reforçado em um ambiente de maior estabilidade institucional. No campo político, Bolsonaro decidirá se aceita prisão domiciliar com redução de penas, em reunião com o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL), enquanto diversas reuniões de bancadas partidárias começarão a discutir o texto final.

Terça-feira: líderes da Câmara definirão a pauta, com “PL da Dosimetria” e IR no radar. Lula discursará na abertura da Assembleia-Geral da ONU, onde se espera que confronte Trump sobre democracia, soberania, meio ambiente e genocídio na Faixa de Gaza, elevando a polarização global entre as visões da Casa Branca e Palácio do Planalto. Antecipando-se às novas sanções americanas, o presidente anunciou a liberação do apoio a setores econômicos afetados pelo tarifaço, acalmando ânimos do empresariado.

Quarta-feira: o “PL da Dosimetria” —  ou anistia "light" —  pode ser votado, selando o destino do clã Bolsonaro, salvo recuo do Legislativo por pressão das sanções de Washington. A reforma do IR também pode entrar em pauta. No Senado, começa a tramitar a PEC da Blindagem, que deve ser rejeitada por “jogar no lixo” a imagem da Casa, de acordo com seu relator Alessandro Vieira.

Quinta-feira: saem os dados oficiais da inflação de setembro, e o presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, dará novos sinais sobre sua perspectiva sobre juros e cenário macroeconômico.

No momento, afora a confusão entre “as dores do parto e a tranquilidade do recém-nascido”, a combinação de fatores internos e externos favorece um ambiente com mais credibilidade, previsibilidade e estabilidade, beneficiando Lula, mesmo com a permanência da polarização e tendência de disputa acirrada em 2026.