Informações nestas segunda-feira destacam que movimento de Lula junto aos BRICS deve aumentar a hostilidade dos EUA; mas manter apoiadores confiantes. O Centrão pode destravar reforma do IR e anistia por "ganha-ganha" na polarização, com foco em desempenho eleitoral.
Durante a cúpula virtual do BRICS, realizada nesta segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a normalização do que chamou de “chantagem tarifária”, apontada como restritiva do livre-comércio global, pela Organização Mundial do Comércio (OMC), órgão responsável por regular as relações comerciais internacionais. O governo brasileiro aposta no fortalecimento do multilateralismo, em contraposição ao unilateralismo promovido pelo governo americano de Donald Trump.
Em conjunto, as declarações reafirmam a soberania das nações do BRICS, mas podem gerar insatisfações e reações adversas em Washington, em sentido contrário ao pretendido, segundo investidores e empresários. No entanto, servem para manter a base lulista mobilizada e confiante de que é possível garantir retaguarda internacional, por meio do bloco e da China, para resistir à pressão da Casa Branca, sobretudo pela anistia aos réus do 8 de Janeiro e para a sucessão presidencial de 2026.
A reunião teve como pauta principal as novas tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos. O presidente da China, Xi Jinping, visto como líder de uma nova ordem mundial multipolar, conclamou os membros do BRICS a resistirem a todas as formas de protecionismo.
(Ricardo Stuckert/PR)
No cenário doméstico, o discurso do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e seu compromisso com a anistia, gerou apreensão entre franjas de partidos de centro-direita que o apoiam em uma eventual candidatura ao Palácio do Planalto, de acordo com relatos da imprensa. Para esses partidos, a postura de Tarcísio compromete seu perfil moderado e encarece o endosso à sua candidatura.
Segundo analistas, a movimentação subestima o peso de Washington na influência sobre a direita brasileira e ignora uma estratégia calculada de Tarcísio: primeiro capturar o apoio do bolsonarismo raiz, para depois ampliar seu apelo ao centro durante o processo eleitoral.
No Congresso, Lula orientou ministros ligados ao Centrão a reforçarem o discurso contra a anistia, enquanto governistas reconhecem que a pauta tem avançado na base aliada, ainda conforme as notícias. Por isso, esperam que cada ministro atue junto aos parlamentares de seus partidos, que hoje detêm autonomia política e financeira. Uma consequência, conforme especialistas, de um controle considerado disfuncional das prerrogativas do Poder Executivo.
Já o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, afirmou que a Casa tem o compromisso de votar o projeto que prevê a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil mensais, ainda sem data certa para entrar em pauta. “Há consenso na Casa de que esta é uma prioridade para o Brasil e para os brasileiros”, disse Motta em postagem nas redes sociais, após diálogo com a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann.
No entanto, o protagonismo do ex-presidente da Câmara, Arthur Lira, nos bastidores, sinaliza que não se pode descartar uma troca: a aprovação da reforma do IR como "open door" para a anistia, em um jogo que o Centrão poderia ver como de "ganha-ganha" para os pólos da soberania vs. anistia em confronto.
Com esta fórmula, o caminho de Tarcísio com apoio do Centrão, mercado e até da Casa Branca poderia fluir, enquanto o Planalto teria uma bandeira prioritária garantida para chamar de sua, permitindo ao bloco de centro-direita navegar entre os dois interesses, inclusive regionalmente, e ainda eleger seu nome predileto em 2026 "com Bolsonaro, com tudo".