| Por: Leopoldo Vieira |
O ex-presidente Jair Bolsonaro aceitou uma anistia “light” que o manterá inelegível, mas livre da Papuda, conforme o Poder360, o que pode contribuir para um ambiente mais favorável à conversa remota entre o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e o americano Donald Trump, marcada para a próxima semana, sob expectativa de abrir caminho para um novo acordo tarifário entre Brasil e Estados Unidos. No mesmo período, deve ser votado o chamado “PL da Dosimetria” — rebranding da anistia ampla, segundo seu relator, deputado Paulo Pereira da Silva. Entretanto, para estrategistas políticos como Chico Cavalcante, que aconselha o governador paraense Helder Barbalho, a divulgação da capitulação de Bolsonaro sinaliza o que a direita gostaria de pactuar, não uma questão fechada. O PT se posicionou contra a manobra.
A pena total de Bolsonaro deve ser reduzida para 1 ano e 7 meses de prisão domiciliar, em vez dos atuais 27 anos, mantendo-o fora das urnas eletrônicas em 2026, ainda segundo o Poder360. O ex-presidente autorizou o PL a fechar o acordo após se encontrar com o líder da legenda na Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcante. O relator da anistia “light” havia anunciado que seu texto se limitaria a reduzir as penas dos envolvidos na tentativa de golpe de Estado.
OTIMISMO COM CAUTELA
Para o cientista político Josué Medeiros, da UFRJ, o gesto de Trump representa uma vitória inquestionável de Lula, pois rompeu o monopólio bolsonarista na interlocução com os americanos, criando condições para a formalização de uma mesa de negociação impensável até terça-feira. Medeiros, no entanto, recomenda cautela quanto à expectativa de resultados imediatos. Ele avalia que será necessário observar como esse possível entendimento se desdobrará até as eleições do ano que vem.
No mercado, banqueiros receberam com alívio a notícia da reunião entre Lula e Trump, avaliando que reduz o “risco Magnitsky”. No setor, há quem veja chance de suspensão ou amenização das sanções, caso o Supremo Tribunal Federal (STF) concorde com o entendimento por redução de penas com inelegibilidade de Bolsonaro, e o presidente americano se sinta contemplado com a solução para seu afilhado político local. O Ibovespa fechou nesta terça-feira no maior patamar da história, em alta de 0,91%, a 146.424,94 pontos. Acompanhando o movimento, o real se valorizou 1,10% frente ao dólar, cotado a R$ 5,279. Os juros futuros recuaram em toda a curva.
MOTIVAÇÕES PARA O ACENO DE TRUMP
Para Cavalcante, as manifestações de domingo foram fundamentais para mostrar a Washington o isolamento e o enfraquecimento do clã Bolsonaro. Além disso, os protestos contra o “pacote da impunidade”, derrotado parcialmente no Senado com a rejeição da “PEC da Blindagem”, foram interpretados como decisivos para que o presidente da Câmara, Hugo Motta, pautasse a reforma do Imposto de Renda (IR) na próxima quarta-feira, na mesma semana da reunião Brasil-EUA e da votação do “PL da Dosimetria”.
O lobby comercial junto à Casa Branca, conduzido pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, também foi considerado decisivo para destravar o diálogo. Em 2022, o ex-tucano arrastou investidores e empresários conhecidos como farialulers para a frente ampla de Lula, quebrando a hegemonia e a homogeneidade pró-Bolsonaro na Faria Lima. Os agentes econômicos defendem que minerais críticos, etanol e data centers sejam incluídos nas negociações entre Lula e Trump. O Palácio do Planalto sinalizou que tudo está na mesa, exceto a parte política do impasse. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o foco será integração econômica e investimentos mútuos.
MAIS ESTABILIDADE, CENTRO-DIREITA AMEAÇADA
Em meio às projeções de queda da taxa Selic no início de 2026, o presidente da Câmara elogiou o discurso de Lula na Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU) — que foi assistido atentamente por Trump — e defendeu o diálogo como solução para os impasses. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, declarou que Lula e Trump precisam “sentar e conversar mesmo” sobre o tarifaço. Mesmo temendo uma trégua, aliados de Bolsonaro avaliaram que Lula saiu como o grande vencedor do embate com Trump, que valoriza negociadores fortes, ao demonstrar serenidade e firmeza política.
Em contraponto, o deputado Eduardo Bolsonaro declarou que pretende disputar a Presidência em 2026 se o pai permanecer inelegível, o que pode ser determinante para levar a centro-direita à derrota na sucessão presidencial. Todavia, o conjunto desses eventos fecha um ciclo político que indica maior credibilidade, previsibilidade e estabilidade do país, em um contexto de ofensiva e vantagem do governo Lula.