Pular para o conteúdo principal

Feed da Semana: Julgamento de Bolsonaro, "picanha e cerveja", "CPI da Faria Lima" (e do INSS)

Esta semana pode ser o começo de um divisor de águas na política nacional com vistas às eleições de 2026. Reforma do IR, julgamento de Bolsonaro, anistia, sanções, investigações da PF na Faria Lima, CPIs, Tarcísio e calendário econômico movimentam um período energizante de 2025 em Brasília.

PAUTA POLÍTICA: LULA NA OFENSIVA

O Supremo Tribunal Federal (STF) inicia o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, o que deve aumentar a tensão política. O processo reacende debates sobre o fim do foro privilegiado, blindagem de parlamentares diante de investigações da Corte e anistia aos réus da tentativa de golpe violento de 8 de Janeiro. A maioria da população, ainda que por margem estreita, considera Bolsonaro culpado, rejeita a anistia e teme sua volta ao poder — cenário que favorece o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A expectativa é de novas pressões da Casa Branca para influenciar o desfecho do julgamento.


(Gabriela Biló/Folhapress)

Já o governo Lula aposta na ofensiva para aprovar medidas de sua agenda “picanha e cerveja”, em um momento de diminuição do apelo em torno da defesa da bandeira nacional contra o tarifaço e as sanções americanas, segundo analistas políticos do mercado financeiro internacional. O destaque é a Reforma do Imposto de Renda (IR).

A proposta amplia a faixa de isenção total até R$ 5 mil e a parcial até R$ 7 mil. É a prioridade do Palácio do Planalto: sintetiza a promessa de ricos no IR, reforça a campanha pela justiça tributária, mobiliza o eleitorado raiz do lulismo e, assim como o fim da escala 6x1, tem apoio superior a 70% da população. Pesquisas recentes indicam que a medida pode furar a bolha da polarização e funcionar como fonte de apoio social ao governo Lula contra o assédio americano. Impasses quanto à compensação, que atinge o chamado "andar de cima", foram superados, conforme relatos na imprensa.

A Medida Provisória (MP) que torna a conta de luz mais barata e o lançamento do programa Gás do Povo, para ampliar o acesso ao gás de cozinha, ambos voltados para milhões de famílias de baixa renda, reforçam a agenda.

Enquanto isso, a CPI do INSS retoma os trabalhos sob comando da oposição, com o objetivo de desgastar o Planalto. Sem acordo, Frei Chico, irmão do presidente, pode ser convocado. No Senado e com apoio do Planalto, o presidente Davi Alcolumbre pautou o projeto que prevê que empresas que utilizam a inadimplência fiscal como modelo de negócio, um público conhecido como devedor contumaz, sejam punidas. 

"FARIACRIMINALS"

Outro ponto quente é a repercussão das operações da Polícia Federal (PF) contra lavagem de dinheiro do crime organizado na Faria Lima, que fortaleceu a chamada PEC da Segurança Pública. O caso também pressiona pela abertura de uma “CPI da Faria Lima”, articulada pelo líder do PT, Lindbergh Farias, para investigar vínculos entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e empresas e fundos de investimento. 

Um dos presos nas operações contra fintechs ligadas ao PCC participou de 25 viagens em comitivas do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e há expectativa de que políticos de centro-direita também sejam implicados, gerando apreensão em Brasília. Como candidato do establishment, Freitas pode acabar alvo de sentimentos antissistema.

Na frente eleitoral, ele viu sua pré-candidatura à Presidência ganhar impulso com o apoio do Centrão e do mercado financeiro, com reflexos na alta da Bolsa e queda do dólar. O mercado projeta valorização de ativos caso um candidato de direita amigável cresça e vença em 2026.  

Entretanto, Freitas, que prometeu indultar Bolsonaro se for eleito, ainda não tem aval da Casa Branca e depende da família Bolsonaro para se viabilizar. O deputado Eduardo Bolsonaro chegou a ameaçar deixar o PL se Tarcísio entrar no partido, mas o gesto pode ser apenas encenação antes de um acordo por uma anistia “light”: Bolsonaro inelegível, mas fora da Papuda. 

O presidente Lula, em inauguração recente em Minas Gerais, fez uma ressalva: “tem muita reunião na calada da noite, todo mundo está tentando se juntar — a extrema-direita, os fascistas — para me derrotar no próximo ano”. 

CALENDÁRIO ECONÔMICO

Segunda-feira: Publicação do Boletim Focus, que já mostrou recuo da inflação projetada para 2027 (3,97%), favorecendo a redução da taxa Selic.

Terça-feira: Colégio de líderes partidários define a pauta parlamentar da semana, o Senado vota o projeto que pune o devedor contumaz, Bolsonaro começa a ser julgado e haverá divulgação do PIB do 2º trimestre, com expectativa de alta de 0,5% em relação ao trimestre anterior e de 2,4% em relação a 2024. Uma desaceleração devido à Selic a 15%, mas que serviu para manter a atração de capital externo.

Quarta-feira: O governo Lula lança o programa Gás para Todos e a Câmara dos Deputados tem comissão geral sobre a Reforma Administrativa para votar a matéria ainda neste mês, enquanto são anunciados os dados da produção industrial de julho, com previsão de estabilidade mensal e avanço de 0,4% anual. Nos Estados Unidos, saem números do mercado de trabalho de agosto, que podem confirmar cortes de juros do Federal Reserve, o banco central americano, em setembro, contribuindo para o ambiente baixista também no Brasil.

Quinta-feira: Com o tarifaço americano em vigência, haverá divulgação da balança comercial de julho, estimada em US$ 6 bilhões, abaixo dos US$ 7,08 bilhões de junho. No acumulado de 12 meses, superávit de US$ 63,5 bilhões (2,9% do PIB).

Sexta-feira: O IBGE divulga o Índice de Preços ao Produtor (IPP) de julho, fundamental para medir se a deflação se mantém ou se há pressões inflacionárias, o que incide também nas análises de cenários para queda dos juros, além de trazer reforço à popularidade de Lula.

Domingo: O 7 de Setembro será o ápice da semana, com o desfile das Forças Armadas no Dia da Independência e manifestações populares refletindo a polarização entre a defesa da soberania nacional, com defesa de pautas sociais (reforma do IR, fim da escala 6x1), e a anistia aos réus do 8 de Janeiro. 

MORAL DA HISTÓRIA

Se as projeções econômicas se confirmarem, abre-se mais o caminho para cortes de juros no fim de 2025 ou início de 2026, o que pode reforçar a competitividade de Lula na corrida pela reeleição, ampliando sua capacidade de atrair aliados, em meio a sinais de atividade resiliente e melhora econômica para classes médias e trabalhadoras. 

Do lado oposicionista, deve aumentar a pressão do Centrão e Faria Lima para Bolsonaro endossar a candidatura Freitas, se possível, com adesão de Trump. 

Mas o avanço da agenda "picanha e cerveja" e das investigações contra o PCC na Faria Lima, além do julgamento de Bolsonaro ao arrepio de Washington, contribuem para a ofensiva do presidente Lula, dando retaguarda contra a pressão americana e do establishment local, bem como fôlego para a defesa da bandeira nacional num ambiente irremediavelmente polarizado.