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Pixinguinha, Lupicínio Rodrigues afinam reconhecimento da negritude na MPB


| Por: Ruth Vieira |

Neste mês de setembro, o clima foi de samba no ar! O Brasil resolveu afinar sua história com a soberania em vários aspectos. Um dos que merecem relevância — e não foi com qualquer nota — foi botar no tom mais alto dos acordes da Música Popular Brasileira (MPB) os mestres Pixinguinha e Lupicínio Rodrigues, com pompa e merecimento, agora oficialmente patronos da MPB. O país, que às vezes desafina nos reconhecimentos, finalmente acertou seu maior tom, unindo a genialidade, a inspiração e a contribuição de duas das maiores representatividades negras brasileiras na cultura do país.


(Conjur/Reprodução)

Pixinguinha fez o Rio de Janeiro dançar sem levantar da cadeira, agora é oficialmente o pai do choro — como se já não fosse desde sempre. E Lupicínio, o poeta da sofrência antes da sofrência virar modinha, é agora o patrono da dor de cotovelo com selo oficial. É mais que justiça poética: é devolver a quem de direito os louros e glórias pelo pioneirismo e criatividade. Outros patronos nomeados, apesar de suas notórias qualidades, Heitor Villa-Lobos (1960), Carlos Gomes (1970) e Chiquinha Gonzaga (nossa primeira patrona, nomeada em 2012, por Dilma Roussef), eram brancos.

A sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por meio da Lei nº 15.204/2025, chegou com o peso da ancestralidade, da genialidade negra que moldou a alma sonora do Brasil. Porque não dá pra falar de MPB sem falar de Pixinguinha, que fazia a flauta chorar como se fosse gente. Nem dá pra cantar sobre amor sem passar por Lupicínio, que transformou sofrimento em arte e boemia em trilha sonora.

Esses dois não vieram de conservatórios nem de escolas de elite. Vieram da rua, do rádio, do coração partido e da roda de samba. Vieram da pele preta que resistiu, criou e encantou. Vieram da sabedoria que não se aprende em livro, mas em vida vivida. E que vida!

Pixinguinha, que emociona ‘forever’ com seu “Carinhoso” como um dos hinos do Brasil, ensinou que o afeto também é revolução. Lupicínio, com “Nervos de Aço”, mostrou a elegância da dor. Juntos, mesmo em tempos diferentes, fizeram da música brasileira um espelho da alma nacional — com todas as suas contradições, amores e lamentos.

Agora, com a canetada que os eterniza como patronos, o Brasil dá um passo bonito rumo ao reconhecimento do protagonismo negro na cultura. Porque não basta aplaudir no palco — é preciso registrar na história. E que história!

Imaginem Pixinguinha, lá no céu do samba, afinando sua flauta com um sorriso, e Lupicínio, num boteco celestial, brindando com um copo de saudade. Eles merecem. Nós merecemos. E que venham outros nomes, outras vozes, outras acordes. Que a música brasileira continue sendo esse território onde o talento negro floresce e ganha cada vez mais espaço e reconhecimento. Quando o Brasil afina com sua história, o som que sai é justo, bonito e soberano.