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"Baby boomers": a luta continua e o sonho nunca acaba?

Por: Ruth Vieira

| Um episódio emblemático em Londres reacendeu o debate sobre o engajamento político das gerações. Durante um protesto pró-Palestina contra a decisão do governo britânico de classificar o grupo Ação Palestina como organização terrorista, mais de 500 pessoas foram presas — e surpreendentemente, quase a metade tinha 60+. Idosos foram detidos por exibirem cartazes e placas em apoio à causa palestina, em um ato que se tornou o maior desde a proibição do grupo. |

A cena, de senhores e senhoras sendo levados pela polícia por defenderem ideais, é uma mostra da persistência de uma geração que não abandonou as ruas, nem a luta, mas uma preocupação com o futuro: e a juventude, onde está lutando?

A metade, ou a maioria dos manifestantes é a geração “baby boomers” — nascidos entre 1946 e 1964 — que cresceu em um mundo em reconstrução após a Segunda Guerra Mundial. Foram moldados por avanços tecnológicos, expansão da educação e uma cultura de mobilização que os levou às ruas por direitos civis, contra guerras injustas e em prol da igualdade de gênero. A rua era o palco da história, e eles estavam lá, com cartazes, vozes e coragem. Mesmo hoje, com cabelos brancos e passos mais lentos, continuam acreditando no poder da ação coletiva e na célebre frase “a luta continua”.


(Reprodução/Al Jazeera)

O contraste entre esta geração e as outras é evidente principalmente quando olhamos para as pós-internet. Com o avanço das tecnologias digitais, o ativismo migrou para as redes sociais, onde hashtags substituíram megafones e a indignação se dissolveu em algoritmos. Pesquisas recentes apontam que essas gerações perderam o “elã” — aquele impulso vital que movia os jovens a lutar por causas coletivas. O engajamento se tornou fragmentado, muitas vezes superficial, o senso de comunidade foi diluído pelo individualismo das plataformas digitais e o ego foi cristalizado pelos likes e monetização.
A coisa fica mais alarmante ainda quando há dados que revelam um declínio na inteligência das novas gerações. Pela primeira vez na história moderna, estudos indicam que os filhos não serão mais inteligentes que os pais. O chamado "efeito Flynn", que mostrava um aumento gradual do QI ao longo das gerações, está em queda em diversos países. As causas vão do excesso de estímulos digitais, a fragmentação do conhecimento e a passividade diante da tecnologia a fatores que comprometem o desenvolvimento cognitivo e a capacidade de pensamento crítico como o uso cada vez mais intenso da inteligência artificial.
Arrisco opinar que a geração “baby boomer” é a última que se mobiliza em massa, que acredita no poder da rua e da coletividade. A frase “Nós somos aquela geração que não vai voltar” não é apenas uma constatação melancólica, mas um alerta: sem engajamento real, sem inteligência crítica, os jovens serão cada vez mais desmobilizados, manipulados e reféns da tecnologia. Cabe às novas gerações refletirem sobre o legado que estão dispostas a construir e se estão prontas para sair da tela e ocupar as ruas para avançar tendo a internet como aliada na luta.