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Carteiras Lula, Tarcísio e Bolsonaro: em qual país você investirá?

As eleições de 2026 não vão agitar apenas Brasília — a B3 também entra no clima da disputa. Assim como em 2022, investidores já começam a desenhar “carteiras eleitorais” para identificar quais ações podem se beneficiar — ou sofrer — de acordo com o vencedor. Mas é preciso cautela: investir é diferente de votar. Alocar recursos no mercado com viés político ou ideológico pode transformar narrativa em prejuízo.

O risco não é novo. Em 2020, uma pesquisa da B3 mostrou que 73% dos investidores aprenderam a investir com influenciadores financeiros, concentrados em uma bolha digital conhecida como “FinTwit brasileira”. Segundo entidades do mercado, a audiência dessas vozes já se aproxima de 100 milhões de seguidores. 

O "RISCO VIÉS"

Um caso histórico de viés foi o megainvestidor George Soros profetizar, pouco antes da primeira vitória de Lula, que se o mercado apostasse que o candidato do PT daria o calote, isso deflagraria ações preventivas de tal extensão que, uma vez eleito, ele encontraria um quadro econômico insustentável, tornando o calote obrigatório.

Um outro é que as pautas defendidas por Lula geralmente são tomadas como “risco Lula”, um termo para se referir a ele desde 1979, quando ainda era líder sindical. E apesar de seus governos, que conseguiram superávit primário, controle da dívida e da inflação, reservas cambiais, além de crescimento econômico sustentado e proteção ambiental sem abalar a democracia liberal.

Por fim, a boa vontade de grandes gestores - como Rogério Xavier da SPX, Luis Stuhlberger da Verde Asset e o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga - à candidatura Lula em 2022, por razões que investidores de direita apontaram como independentes das suas áreas de competência. Ou seja, por rejeição à instabilidade institucional e gestão da pandemia pelo governo Bolsonaro, por exemplo. Muito embora tenha sido esta gestão quem enterrou o Teto de Gastos.

PERFIL E ESTRATÉGIA

Em 2022, o eleitorado de Lula era o mais conservador em seus investimentos, talvez em virtude das rusgas acumuladas recentemente entre o mercado e as ideias defendidas pelo PT, ou, por motivos ideológicos, optarem por ativos mais seguros e focados em ideias como "contribuir com o desenvolvimento do País", preferindo ativos de renda fixa de longo prazo. Já os eleitores de Jair Bolsonaro, embora investissem pouco, tinham preferência pelo retorno.

Para traders experientes, o caminho é claro: diversificação e atenção aos setores da economia, independentemente de quem esteja no Palácio do Planalto. Ainda assim, analistas lembram que, se o eleitor também se reconhecer na Bolsa por meio de oportunidades ligadas às propostas de seus candidatos, o número de investidores tende a crescer. Esse movimento é favorecido em ciclos de alta da renda e do consumo, quando sobra dinheiro para investir, como lembrou o presidente Lula em 2002, quando visitou a antiga Bovespa como candidato: 

"Para a Bolsa crescer, é preciso a economia voltar a crescer. Aí, a gente consegue ganhar um trocado a mais", disse o petista, sendo aplaudido pelos operadores.


(Marcos Alves/O Globo)

BOLSA DO MUNDO DO TRABALHO

O número de contas ativas de pessoas físicas na B3 cresceu 5,2% em 2024, alcançando 6 milhões em dezembro, contra 5,7 milhões no mesmo mês de 2023. Esse avanço mostra um movimento consistente de entrada de novos investidores na Bolsa, ainda que com valores cada vez menores.

Segundo dados da própria B3, cerca de 27% aplicaram até R$ 40 em seu primeiro investimento — um sinal de que a Bolsa está se tornando mais acessível para a base da pirâmide, isto é, para a classe trabalhadora CLT ou empreendedora. Com propostas como a ampliação da isenção, total ou parcial, do Imposto de Renda até R$ 7 mil, essa tendência pode melhorar. Os investidores pessoas físicas concentram hoje R$ 526,4 bilhões aplicados na B3. 

Seja você um “sardinha” ou um “tubarão” da Faria Lima, montar uma carteira atenta ao cenário eleitoral será tão importante quanto acompanhar os balanços trimestrais, a variação do dólar e as taxas DIs. Mas, lembre-se: para isso, será necessário acessar uma corretora. No Brasil, há muitas privadas, como a XP e novíssima do TC (TradersClub). Porém, é também possível fazer isso pela Caixa Econômica Federal.

Confira abaixo os tickers de índices e companhias que podem brilhar em cenários Lula, Tarcísio ou Bolsonaro:

📊 Índices e ativos gerais 

IBOV (Ibovespa – índice geral) → termômetro de percepção geral do mercado sobre Brasil.

IFIX (índice de fundos imobiliários) → sensível a juros/Selic.

IDIV (índice de dividendos) → ligado a estatais pagadoras de dividendos.

SMAL11 (índice de small caps) → mais sensível à percepção de risco político.

Dólar Futuro (DOL1!) e DIs Futuro (DI1) → para medir expectativa de juros e risco-país.

🟦 Se Tarcísio ganhar

PETR3 / PETR4 (Petrobras) → chance de privatização, dividendos maiores.

ELET3 / ELET6 (Eletrobras) → mais espaço para o setor privado na gestão da companhia e foco nos resultados.

BBAS3 (Banco do Brasil) → também passível de privatização.

CXSE3 (Caixa Seguridade) → especulação sobre abertura de capital da Caixa-mãe e privatização completa do braço segurador.

Sabesp (SBSP3) → referência em privatização paulista, marca inevitavelmente associada a Tarcísio.

CCR (CCRO3), Ecorodovias (ECOR3) e Rumo Logística (RAIL3) → mais concessões amigáveis à livre iniciativa.

BBDC4 (Bradesco), ITUB4 (Itaú), SANB11 (Santander) → tendem a se beneficiar da agenda fiscal rígida.

XP (XPBR31) → maior apetite por renda variável em cenário pró-mercado.

VALE3 (Vale), JBS (JBSS3), Marfrig (MRFG3) e BRF (BRFS3) → ganham com abertura econômica e eventual distensionamento do tarifaço.

TRAD3 (Tenda) e SMAL11 → ganha pelo apetite por risco e agenda liberal na economia.


🟥 Se Bolsonaro (ou um Bolsonaro raiz) ganhar

Taurus (TASA4) → ganha com incentivo à cultura armamentista.

PETR4, BBAS3, ELET3, CXSE3 → tendem ganhar com pressão privatista, mas a oscilar muito com risco institucional e interferências políticas.

ITUB4, BBDC4, SANB11 → agenda ultraliberal.

JBSS3, MRFG3, BRFS3, VALE3 → setor exportador beneficiado pela relação pró- Donald Trump.

TRAD3 (Tenda) e SMAL11 → beneficiados pelo apetite por risco e agenda liberal na economia.

🟩 Se Lula ganhar (reeleição)

PETR4 → foco em transição energética, refino e investimentos no Brasil.

BBAS3 → fortalecimento do crédito agrícola e programas sociais.

CXSE3 (Caixa Seguridade) → fortalecimento da Caixa Mãe em habitação, crédito e seguros.

Banco da Amazônia (BASA3) e Banco do Nordeste (BNBR3) → fortalecidos com crédito regional para desenvolvimento.

CSAN3 (Cosan), RAIZ4 (Raízen) → biocombustíveis e etanol.

MRVE3 (MRV), CYRE3 (Cyrela) → habitação popular.

VVAR3 (Via Varejo / Casas Bahia), MGLU3 (Magazine Luiza) → consumo de baixa renda beneficiado por crédito popular e melhora do emprego e da renda..

WEGE3 (Weg), EMBR3 (Embraer) → política de reindustrialização e apoio à exportação.

VALE3, JBSS3, MRFG3 e BRFS3 → valorização de commodities.

TRAD3 (Tenda) e SMAL11 → beneficiados por medida como a reforma do IR, além de políticas de emprego, renda e estímulo ao crédito/empreendedorismo.

O mercado financeiro já começou a precificar as eleições de 2026 e os investidores querem saber quais ações vão disparar se Lula, Tarcísio de Freitas ou Jair Bolsonaro (ou até seus herdeiros políticos) dominarem o jogo. A pergunta que vale milhões é: em qual Brasil você vai investir?

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Disclaimer: As informações desta coluna não devem ser interpretadas como fatos ou como indicação de compra, venda ou manutenção de ativos financeiros, tampouco como recomendação de investimento.