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O copo meio vazio das pesquisas

Pesquisas divulgadas nesta semana mostram que, embora o ambiente polarizado tenha dado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma recuperação parcial de popularidade — por margem estreita — após a campanha pela justiça tributária e o embate do tarifaço americano, o cenário segue instável e sob risco de reversão no curto prazo, caso a defesa da “bandeira nacional” perca força, como é previsto que acontecerá por analistas políticos de grandes investidores. 

No cabo de guerra entre oposição e cúpula do Congresso sobre a anistia a réus do 8 de janeiro, 51,2% dos brasileiros se declaram contrários a um perdão “amplo, geral e irrestrito”, segundo a  Atlas/Bloomberg. O dado respalda a posição do presidente da Câmara, Hugo Motta, que afirma não haver clima para uma proposta que beneficie quem teria planejado homicídios de autoridades, inclusive o próprio presidente Lula. Ainda assim, 46,9% dizem apoiar uma medida que alcance tanto líderes políticos quanto manifestantes investigados ou condenados por invadir e depredar as sedes dos Três Poderes.

Especialistas destacam que, considerando a margem de erro de dois pontos, o cenário revela não só polarização instável, mas também uma diferença mínima de 0,3 ponto percentual entre apoio a uma anistia moderada e a uma expandida.


(Givaldo Barbosa)

Na questão da prisão domiciliar de Jair Bolsonaro, os levantamentos se contradizem. O Datafolha indica apoio de 51% à decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), contra 42% que discordam — diferença de ao menos 5 pontos. Já a Atlas/Bloomberg aponta o oposto: 52,1% contra a prisão. A divergência reforça a dificuldade do eleitorado em confiar plenamente nesses dados. Contudo, o Datafolha mostra que 43% dos brasileiros acreditam que Bolsonaro é tratado com mais rigor que outros políticos, contra 37% que veem igualdade de tratamento. 

Nesse contexto, nada impede que o ex-presidente passe a ser visto por parte da população como vítima. Dados internos do Palácio do Planalto indicam que a prisão de Bolsonaro interrompeu uma curva ascendente de menções positivas a Lula e ao STF nas redes sociais e na imprensa. Até então, predominava a percepção de que o chefe do Poder Executivo agia corretamente na defesa da soberania nacional, enquanto o estímulo do clã Bolsonaro à hostilidade americana era interpretado como traição.

Outro levantamento, da Ipsos-Ipec, reforça riscos ao governo: 75% dos brasileiros acreditam que o tarifaço americano tem motivação política, mas 49% concordam com a medida de Donald Trump (33% totalmente e 16% parcialmente), enquanto 43% discordam (30% totalmente e 13% parcialmente). A pesquisa também revela que 60% temem um isolamento internacional do Brasil.

Na prática, os números indicam disputa equilibrada e sem vantagem garantida ao presidente Lula. Uma das "boas notícias" para ele vem da AtlasIntel/Bloomberg: 81% dos brasileiros não confiam no Congresso; 51,3% não confiam no STF; e 52% não confiam no governo federal. 

Para articuladores políticos, a baixa popularidade do Legislativo perante os dois outros Poderes, considerados aliados entre si, poderia servir como alavanca para impulsionar a agenda de barrar a anistia, ampliar a isenção do Imposto de Renda ou para renegociar o montante das emendas parlamentares. 

Entretanto, esse mesmo desgaste pode levar a cúpula do Congresso a tentar “sair do corner”, buscando suporte no relevante contingente eleitoral do outro lado da polarização enquanto calcula milimetricamente o fôlego do governo Lula no avançar dos acontecimentos. E o STF avalia que o presidente da Câmara, Hugo Motta, "errou" ao procrastinar punições a parlamentares que atacaram a Corte...