Uma candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, "vai apenas resolver a vida do pessoal da Faria Lima", segundo o deputado Eduardo Bolsonaro, revelando que o objetivo oculto da articulação do tarifaço americano contra o Brasil é pressionar o mercado financeiro a apoiar a anistia "ampla, geral e irrestrita" dos réus do 8 de Janeiro para beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro.
⁉️ Isso desperta dúvidas se apenas um alívio judicial, que mantenha em liberdade, mas inelegível o ex-presidente, como articula a cúpula do Congresso, destravaria as negociações e diminuiria as tensões com os Estados Unidos.
🤌 "Agora ele (Tarcísio) quer posar de salvador da pátria. Se o sistema enxergar no Tarcísio uma possibilidade de solução, eles não vão fazer o que estão pressionados a fazer", disse Eduardo a seu pai, em mensagens obtidas pela Polícia Federal (PF) e vazadas à imprensa, no inquérito que investiga a relação do bolsonarismo com a Casa Branca que resultou nas sobretaxas e sanções. Eduardo sustenta que Freitas não terá acesso a Washington, assim como o governo Lula.
💰 Na terça-feira, o dólar subiu e a Bolsa caiu após decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) que proibiram bancos de cumprir legislações estrangeiras no Brasil, como as sanções americanas da Lei Magnitsky, levando a uma perda de R$ 42 bilhões em valor de instituições financeiras com filiais nos EUA, em um prejuízo total de quase R$ 90 bilhões considerando as companhias listadas na B3. Houve até banqueiros propondo que os magistrados transfiram seus recursos para cooperativas de crédito, tamanha a resistência do sistema financeiro em absorver as perdas estimadas com o descumprimento das sanções. Os ministros da Corte reafirmaram que não haverá concessões.
🤔 "Traders" experientes avaliam que o vazamento das mensagens entre Eduardo e Bolsonaro fragilizou a família, gerando ganhos imediatos para o presidente Lula e para Freitas, que “joga parado”, mantendo diálogo com grandes investidores, executivos e empresários e com o Centrão. A nova principal força política do bloco, a federação "União Progressista", selou acordo com Tarcísio na cabeça e o senador e ex-Casa Civil de Bolsonaro, Ciro Nogueira, de vice, conforme relatos da imprensa. Esses "traders", porém, aguardam com cautela a reação da gestão Donald Trump.
(Alan Santos/PR)
OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS
💣 Este vetor pode definir daqui em diante um gatilho para alta do dólar, queda do Ibovespa, elevação dos juros futuros (DIs) e incertezas sobre a trajetória baixista da taxa Selic. Movimentos que reforçariam o “rali” do mercado em busca de uma candidatura anti-Lula robusta para 2026. O problema é que esse projeto esbarra agora não apenas na resiliência do presidente nas pesquisas recentes, mas no próprio impasse criado entre a direita pelo tarifaço e pelas sanções, o que desloca o cerne da disputa da polarização com Lula para Centrão vs. clã Bolsonaro, indicando ao mercado uma condição de árbitro.
🧘♂️ Por enquanto, o Centrão pode administrar desgastes programados ao governo Lula, como por meio do controle da CPMI do INSS, e a anistia "light" como moeda de troca para o clã Bolsonaro aderir à candidatura de Freitas, como preza a cartilha da política tradicional. Mas, é incerto o que acontecerá se o clã, mesmo desgastado, intensificar os esforços desde os EUA para que o bloco assuma a anistia ampla, sob ameaça de suas lideranças também serem sancionadas, enquanto se prolonga o impasse do tarifaço e das punições já aplicadas.
✋ Segundo analistas, a escalada Brasil vs. EUA até pode continuar, mas vai ter um limite se o governo mantiver a linha atual de não retaliar e nem perder a cabeça. Outros especialistas, no entanto, avaliam que posições de técnicos de Estado e informações racionalmente fundamentadas não movem nem compõem o modo de agir do trumpismo-bolsonarismo com vistas a uma reversão do quadro. Também pode ser temerário supor que o receio de Eduardo quanto a Trump recuar mediante uma anistia moderada, sem reação em seu apoio pelo tarifaço, possui validade fora do momento em que foi expresso a Bolsonaro: este não apenas se manifestou como o filho pediu, quanto a oposição ultrapassou as quatro linhas do regimento do Congresso com a obstrução de duas semanas atrás.
⬇️ A nova reação da Casa Branca, portanto, é o atalho que pode levar o mercado a ceder à pressão bolsonarista, arbitrar a favor do clã pela anistia ampla e, na sequência, ser conduzido a apoiar um nome competitivo da família, em linha com Washington.
ENTENDA
👻 Como antecipamos em Quem manda na direita brasileira? Tarifaço responde (14.7), o tarifaço imposto ao Brasil escancarou a disputa sobre quem representará a alternativa de poder da direita em 2026, com vistas ao que grandes investidores e executivos do mercado já precificaram positivamente como uma "mudança de regime" amigável ao mercado. A escolha de Sofia é se serão os Bolsonaro, alinhados diretamente ao presidente americano, ou Freitas, visto como uma versão domesticada pelo sistema e establishment locais.
💃 Também antecipamos em Tarifaço: establishment pode atravessar rua da soberania para a da anistia (28.7), "Enquanto o tarifaço não produzir efeitos práticos, o apelo da soberania deve constranger a cúpula do Parlamento, o PIB e as Forças Armadas a convergir com o Palácio do Planalto, mas isso tende a desidratar se competir com a eventual deterioração das condições de vida da população, das empresas e do sistema financeiro, que também podem ser alvo de sanções".
👽 Assim, a "blitzkrieg" tarifária vai se confirmando como uma mensagem aos setores da Faria Lima e do Centrão que articularam a candidatura do governador Freitas à Presidência: quem representa no Brasil o projeto de Trump é a família Bolsonaro. Ou seja, o clã é visto pela Casa Branca como quem garantirá o alinhamento geopolítico, o favorecimento e o acesso aos recursos desejados pelos EUA.